POR DENTRO DO CONTEÚDO
bibliografias
A terra dá, a terra quer
Antônio Bispo dos Santos
Um convite à escuta da terra como sujeito, este livro é um manifesto da sabedoria ancestral do povo negro e camponês. Antônio Bispo escreve a partir do chão, de onde brotam saberes que nutrem a vida.
Ao apresentar as "tecnologias do mato", ele convida à escuta de uma terra viva, que age, sente e exige reciprocidade. O livro afirma uma cosmologia onde o território é vínculo, e o conhecimento se constrói na relação com o tempo da roça, da festa, da luta. Uma escrita plantada com os pés descalços sobre o mundo.
BISPO DOS SANTOS, Antônio. A terra dá, a terra quer. Rio de Janeiro: Pallas, 2015.


Escritos de uma vida
Sueli Carneiro
Entre denúncias e proposições,Sueli Carneiro sustenta o lugar das mulheres negras como centro de elaboração política e ética. Ao reunir décadas de produção intelectual e militante, o livro afirma que a luta antirracista e feminista não se dissocia da construção de pensamento.
CARNEIRO, Sueli. Escritos de uma vida. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.
Designs for the Pluriverse
Arturo Escobar

E se o mundo não fosse um só, mas muitos? E se o mundo não fosse um só, mas muitos? Escobar propõe um giro ontológico: sair do universalismo moderno e projetar mundos onde a autonomia não é isolamento, mas interdependência.
O pluriverso é espaço de invenção e partilha, onde a autonomia se tece nas relações. Um guia potente para imaginar e construir futuros pluriétnicos, pluri-cósmicos e ecologicamente comprometidos.
ESCÓBAR, Arturo. Designs for the pluriverse: radical interdependence, autonomy, and the making of worlds. Durham: Duke University Press, 2018.
O livro africano sem título
Bunseki Fu-Kiau
Fu-Kiau não escreve para ser encaixado em categorias. O livro, sem nome, recusa os limites do pensamento ocidental desde a capa. Fu-Kiau mergulha nas cosmologias bantu para revelar um universo onde o saber é espiralar, o tempo é ancestral e o corpo é território de memória. Não se lê com os olhos apenas, mas com a alma aberta ao invisível.
FU-KIAU, Bunseki. O livro africano sem título. Rio de Janeiro: Pallas, 2010.

Tecnodiversidade
Yuk Hui
Yuk Hui confronta o imperialismo digital não com nostalgia, mas com invenção. Ao pensar tecnologia como prática cultural, ele propõe que cada cosmovisão pode (e deve) gerar seus próprios modos de lidar com o técnico. É um manifesto por uma tecnodiversidade que reconhece que não há tecnologia neutra, nem universal, mas uma gama de culturas que inventam modos distintos de existir.
HUI, Yuk. Tecnodiversidade. Tradução de André Telles. São Paulo: Ubu Editora, 2021.

A morte e vida das grandes cidades
Jane Jacobs
Um clássico que continua pulsante. Jane Jacobs, com o olhar atento de quem caminha pela cidade e ouve seus murmúrios, desmonta o urbanismo moderno com a força da vida cotidiana. A obra é um elogio ao improviso, ao encontro na calçada, à cidade que respira pela convivência e não pelo controle.
JACOBS, Jane. The death and life of great American cities. New York: Random House, 1961.

Ideias para adiar o fim do mundo
Ailton Krenak
Em poucas páginas, uma avalanche de sabedoria. Krenak convoca o impossível: desacelerar o colapso convocando outros modos de ser, de sonhar, de estar no mundo. Um texto breve, mas profundo, que nos lembra que a humanidade não é medida por consumo, mas por vínculo com a terra e o sagrado.
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

As múltiplas faces da intolerância religiosa
Maria Inês Lacerda
Lacerda investiga com sensibilidade o cotidiano de escolas que, muitas vezes, reproduzem exclusões. O livro destaca como práticas afro-brasileiras seguem sendo alvo de silenciamento e aponta caminhos para transformações possíveis.
A educação aparece na obra como campo fértil para o respeito, a escuta e o reconhecimento de histórias que sustentam a diversidade cultural brasileira.
LACERDA, Maria Inês. As múltiplas faces da intolerância religiosa: reflexões sobre as práticas afro-brasileiras e a escola. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
Santo também come
Raul Lody
Ao falar de comida, Lody também fala de Axé. O livro mergulha nas práticas alimentares das religiões afro-brasileiras para mostrar que preparar e oferecer alimentos é também celebrar vínculos, cuidar dos santos e da comunidade. O autor atribui ao ato de comer o gesto de memória, de fé e de presença viva dos ancestrais.
LODY, Raul. Santo também come: estudos sobre comidas rituais afro-brasileiras. Rio de Janeiro: Pallas, 2006.

Performances do tempo espiralar

Leda Maria Martins
Leda escreve com o corpo aceso de lembrança. Suas palavras percorrem a espiral do tempo diaspórico, onde a memória não se fixa, mas se movimenta.
A performance negra, em sua visão, é uma forma de inscrever o passado no presente, com o gesto, a fala e a presença. Um pensamento encarnado, que nos ajuda a ver o invisível que sustenta o visível.
MARTINS, Leda Maria. Performances do tempo espiralar: poéticas do corpo-tela. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2021.
Quem vê cara não vê ancestralidade
Priscila Mesquita Musa

Priscila revisita arquivos da cidade para revelar rostos, gestos e silêncios que compõem a história negra de Belo Horizonte. Em suas mãos, a fotografia deixa de ser apenas registro e se torna ferramenta de escavação histórica.
Entre imagens e escritas insurgentes, propõe uma cartografia preta da cidade, onde os corpos negros não são apenas presença, mas potência ancestral que molda o urbano.
MUSA, Priscila Mesquita. Quem vê cara não vê ancestralidade: arquivos fotográficos e memórias insurgentes de Belo Horizonte, 2022.
Um pé na cozinha
Taís de Sant’Anna Machado
Nesta tese, Taís Machado analisa a trajetória das cozinheiras negras no Brasil, evidenciando como o racismo e o sexismo moldaram a associação entre mulheres negras e o trabalho alimentar.
A cozinha, historicamente espaço de subalternidade, é aqui ressignificada como lugar de agência, saber e resistência. Uma contribuição essencial para pensar a cozinha como território político e histórico no Brasil.
MACHADO, Taís de Sant’Anna. UM PÉ NA COZINHA: uma análise sócio-histórica do trabalho de cozinheiras negras no Brasil. Brasília, 2021.

Pedagogia das encruzilhadas
Luiz Rufino
Na pedagogia de Rufino, os saberes caminham pelas ruas, brincam nos terreiros, dançam nas encruzilhadas. O autor nos guia por um universo pedagógico radicalmente, onde Exu é mestre e o aprendizado se faz no corpo, na escuta e no espanto.
Um livro que propõe descolonizar o processo de aprendizagem educacional.
RUFINO, Luiz. Pedagogia das encruzilhadas. Rio de Janeiro: Mórula Editorial, 2019.

A natureza do espaço
Milton Santos
Milton Santos pensa o espaço como quem escuta suas camadas mais fundas. Para ele, o território não é só cenário, mas também sujeito. O autor convoca uma geografia crítica e sensível, onde os territórios não são apenas cartografias, mas expressões da luta e da humanidade que habita o mundo.
SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1997.

Comida de santo e comida de branco
Vilson Caetano
Vilson Caetano analisa as transformações recentes nas práticas alimentares dos terreiros de Candomblé, refletindo sobre a tensão entre tradição e mercantilização. A partir de fenômenos como o “candomblé delivery”, o autor discute como sacerdotes lidam com essas mudanças de forma ambígua, ora aderindo, ora silenciando.
A expressão “comida de branco” evidencia uma crítica interna à perda de fundamento e à espetacularização do sagrado. O texto posiciona a cozinha de santo como espaço de disputa simbólica, adaptação e resistência.
SOUSA JÚNIOR, Vilson Caetano de. Comida de santo e comida de branco. Revista Pós Ciências Sociais, v. 11, n. 21, jan./jun. 2014.